sexta-feira, 19 de março de 2010

Dos pãezinhos

-Oi, quero quatro filões.
-Hã?
-Filão. Quero quatro.
-Desculpa, moço, não entendi. Vc quer o que?
-Pão francês. Quatro
-...
-Daqueles comuns.
-...
-Aqueles- digo eu, apontando.
-Ah, pãozinho.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Do Humor

(...)
O linha do limite do humor no Brasil é muito apertada. E patética. A esperança dessa linha ser alargada está na ousadia dessa nova geração de humoristas. Mas não sei se vai rolar. Eu abro revistas e vejo amigos comediantes confortáveis dentro desse limite. Eles não estão fazendo piadas com o mundo das celebridades. Ao contrário. Vejo muito deles se divertindo nesse mundo, pedindo um alvará pra ser aceito e reconhecido como celebridade também. Sabe o aluno bagunceiro da sala que senta na última cadeira? Todos sabem que a qualquer momento pode ser alvo desse cara. Alguns acham graça e outros pensam "que droga que ele está na minha classe. Mas não tem jeito! Eu tenho que aguentar!". Esse é o lugar do comediante na classe artística. A última cadeira da classe. Mas o que vejo são colegas de humor disputando a primeira fileira!

Não rola comédia de opinião por aqui. Isso pode desagrar as pessoas! Então somos genéricos. Só falamos mal em público de político em geral ou do que já foi preso. Dificilmente de um estabelecido. Isso pode gerar críticas da oposição. Já vi comediante fazer piada no twitter e jornalista atrás de click vender aquilo como "ofensa grave". Mas isso não é tão ruim. O ruim foi ver o comediante por causa disso pedir desculpas em público por ter falado o que esperam que ele fale: P-I-A-D-A. Já li entrevista de um comediante muito talentoso dizendo: "na escola eu era amigo dos nerds e dos bagunceiros". Ele não quer se comprometer nem com o seu passado, afinal ele é um bom rapaz! Agrada todo mundo. O problema é que comediante não é o bom rapaz! Pense num comediante realmente grande, que foi reconhecido mundialmente pelo seu trabalho.

Pensou?

Então. Ele não era o bom rapaz. Ele era o moleque sem educação que falava o que ninguém queria ouvir. Ele não é o seu herói. Ele é o seu anti-heroi. Se o senso de justiça do homem comum é agradar a todos o do comediante é desagradar a todos igualmente. O comediante não é uma adorável companhia. Ele é um adorável Filho da puta! Isso é ser comediante de verdade!

Mas aqui no Brasil não se admira comediante de verdade. Porque a verdade não é admirável. Nossa cultura nos ensina a lucrar com a mentira. Rir com a verdade é algo que não entra na cabeça de ninguém por aqui. Aqui a verdade é feita para ser maquiada. A verdade não diverte ninguém. Assusta. Fiquemos então com os imitadores de Silvio Santos, os burros que falam palavras erradas, os trocadilhos, os contadores de anedotas, o atrapalhado que dá cambolhotas circenses, a gostosa semi-nua que faz biquinho e o cara em traje caricato que fala um bordão. Eles não incomodam ninguém.

E o comediante que ousar brincar com a verdade vai cair no esquecimento, de boicote em boicote. E pensando bem é possível que eu esteja indo, em poucos anos, exatamente para lá, para o esquecimento. Mas eu te juro que eu vou contando piada.

Eu realmente gostaria que no Brasil os alvos das piadas não se considerassem tão frágeis, o público não fosse tão limitado e os comediantes não fossem tão covardes e acomodados.


PS: Este texto enorme (ui) é parte de um texto maior ainda (ui!) e foi escrito pelo Danilo Gentili lá no blog dele. Acessem-no para ler inteiro, se houver interesse. Diz ele que precisava de um contexto. Eu acho que não. Acho que somos capazes de entender o que ele quis dizer sem precisar recorrer a um país onde o senso de humor (ou os humoristas), embora corajoso(s) como ele diz, não é grande coisa. Grande coisa é fazer piada com costumes em um país tradicionalista e sisudo. Mais ou menos como esses caras.
PPS: Enquanto criticava, esqueci completamente de Family Guy e da fase áurea dos Simpsons (que parece que está voltando, ainda que lentamente). Eles (os roteiristas) são bons. Atualmente, os melhores.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Velhas



PS: Alguém precisa passar uma vassoura por aqui...

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O Homem criou a Luz e viu que isso era Bom...

Quando tinha 17 anos, pensei que logo eu deixaria de acreditar em Deus. Já deixara de acreditar em Papai Noel e já havia descoberto que meus pais eram mortais. Ora, é a tendência. Crescemos e nossa Fé dá lugar à Razão, e a Razão não acredita, a Razão sabe. Sem provas, uma coisa não existe, a menos que ainda nos seja desconhecida.

Deus é conhecido. Ao menos, já ouvimos falar dele. Mas, como não temos provas não acreditamos nEle. Assim como não acreditamos em duendes ou em unicórnios. A Razão, talvez, só acredite no desconhecido.

O que muitos fazem é deixar de ouvir a Razão neste ponto. É como se ela fosse aquele professor de Processo Penal discursando em frente à sala e decidíssemos simplesmente ignorá-lo, abaixando-nos nas sombras e dormindo o resto da aula.

A Razão é a luz, o conhecimento. E as trevas a ignorância em que repousamos, confortáveis em nossa Ilusão.

Mas, e se estivermos errados em nossa Razão? Se esta tiver sido construída sob uma fundação frágil, não corremos o risco de ter o castelo de nosso Saber desmoronando? Será que somente ignorar Deus, e com isto eu quero dizer todas nossas crenças, e tê-lO como inexistente somente por uma falta de provas é seguro?

E se houver provas e nós não as vemos simplesmente porque colocamos um holofote belo demais em nossa frente?

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A tragédia de Maria.

- Há dias que até para o mais adaptado e conformado ser humano, a vida é insuportável. Há vezes em que é difícil ver a libertação. –

Saiu do trabalho como em um dia qualquer. Um trabalho mecânico e sem finalidade, para uma vida previsível e sem profundidade.

- Há vezes em que o trabalho físico combinado ao ócio mental é perigoso. –

Saiu do trabalho indignada, padecendo daquele incômodo sentimento de quem descobre sua pequenez e inutilidade. Sentimento, bem a propósito, sem nome.

- Quem percebe todo condicionamento existente por trás de cada comentário, cada construção arquitetônica, cada embalagem, torna-se quando pouco, muito chato, quando muito, muito louco. Quando coerente, um suicida. -

Saiu do trabalho lúcida como quem já não espera da vida senão a morte, lúcida como quem entendeu a própria alma e já não tem mais a chance de esquecer. Aquela lucidez que não aceita coexistir com a esperança, mesmo porque já não espera.

Passou pela biblioteca, um hábito, como fumar, inconsciente e necessário.

- A loucura e a inadaptação se reconhecem quando se vêem. –

Entrou na biblioteca quase junto com um rapaz, alto, bonito, encarnou a naturalidade que aprendeu com inúmeras leituras de como ser poderosa e sedutora, aliada a uma verdadeira diligência no estudo comportamental das heroínas novelescas. Deixou-o sem graça, dominou a situação, hesitante, porém no controle.

Chamava-se Péricles, silencioso e sem-jeito. Não guardava em si a medíocre malícia que os homens aprendem com os mais velhos, nem a resignação de um derrotado nas guerras amorosas. Distante como um recém nascido que ignora a desgraça que acaba de lhe ocorrer.

- Há pessoas que mexem com o espírito de quem as rodeia, trazendo esperança, furor, ódio, bravura. Gandhi, Silvia Saint, Hitler, Aquiles. –

Já não era mais indignação ou lucidez que imperava na alma de Maria. Amou-o no instante em que o viu. Dirão os céticos e materialistas deste século que amor à primeira vista é no mínimo infantil. Não percebem que nestes tempos, amor, é, no mínimo infantil.

- Quem tem tempo ou inocência o bastante para ser criança, que ame sem demora. –

Maria já estava seca pelo trabalho, pelas mesmas conversas e padrões, já não sabia mais ser mulher, seduzir e encantar. Mas estava um passo a frente, já havia conseguido deixá-lo sem graça, então num ato de fé o convidou para acompanhá-la até em casa sob o pretexto de carregar alguns poucos livros. Alegrou-se e impressionou-se quando ele aceitou.

Entraram. Ela, demonstrando a naturalidade que aprendera em adaptações cinematográficas, dubladas, de livros românticos desconhecidos. Ofereceu a ele uma bebida que ele educadamente aceitou. Trouxe a bebida e sentou-se timidamente ao lado dele.

- Mentiu culposamente o homem que definiu o bem, mentiu dolosamente o homem que disse que o bem atrai o bem. –

Ele a agarrou, rasgou suas roupas, a cada soco que levava ela resistia menos, a cada chute mostrava-se mais pacífica, no momento em que sentia seus fios de cabelo arrebentarem-se com a violenta puxada, ela já não se mexia mais. Ele a estuprou seguidas vezes, não havia, para ela, uma injustiça ou crime naquele ato, ela o amava. Mas sofreu, quando afogada no próprio sangue, viu nos olhos de Péricles prazer, mas não viu amor.

O apogeu de Péricles.

- Há poucas oportunidades de se libertar, e o amor é difícil de notar. -

Já não me lembro bem quando as coisas começaram a me preocupar, quando comecei a me proteger do sol, ou quando passei a temer o álcool e o tabaco, mas tenho claro em minha mente o exato momento em que tudo isso ruiu, o momento em que me tornei livre.

- Entrei, os livros já começavam a pesar em minhas mãos e no meu rosto já se entrevia os efeitos de uma caminhada para um sedentário.

-Pode deixar os livros ali. É perto não lhe disse?! Tive um longo dia, acho que mereço beber alguma coisa. Aceita?
Sim, claro!

Sentou-se ao meu lado. O mundo parou, mostrando-me com incrível clareza o momento em que caia todas as leis e obrigações. Caíram os muros que cerceavam minha liberdade. Minhas pupilas dilatavam-se e meu corpo deleitava-se.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Circus Maximus

Algo que vem me preocupando é a vulgarização dos celulares. Especificamente, daqueles dotados de câmeras. Não fosse ruim o bombardeio diário a que estamos sujeitos das ondas emitidas pelos nossos milhões de aparelhos, ainda corremos o risco de sermos flagrados em situações constrangedoras e, por que não dizer, comprometedoras.

Muitos dos pensadores modernos têm se preocupado com a questão da perda da intimidade. Os mais liberais, temem que essa quebra de privacidade se dê por meio do Estado, que é quem teria mais interesse em cercear nossas liberdades individuais, gerando assim uma população cada vez mais controlada, voltada aos interesses estatais, à produtividade e coisas afins. Bem, é uma forma cômoda de se pensar, apesar de assustadora. É o que vemos em “1984”, do Orwell. Uma visão terrível sobre a absoluta perda de liberdade, incluindo dos pensamentos e dos próprios sentimentos. Embora o livro nos dê a sensação de que o Inimigo é invencível, ainda assim é um inimigo, alguém a quem odiar, contra quem reunir forças e lutar, erguendo-se em um motim com um grito de liberdade nos lábios e paus e pedras na mão. Ainda que os revoltosos morram, eles lutaram.

Em “Mindscape of Alan Moore”, o protagonista, autor de “Watchmen”, “V for Vendetta”, “Hellblazer”, entre outras grandes obras, diga-se de passagem, conta que, em uma de suas histórias, criou uma Londres futurista em que uma há câmera em cada esquina, observando os cidadãos. Rindo, ele lembra que as autoridades acabaram gostando de sua idéia e que, hoje, Londres já vive essa realidade.
Ainda assim, é o Estado como antagonista.

O que me preocupa não é o Estado, mas os cidadãos. Cada um de nós é um espião em potencial, carregando nossos celulares com 5.0 megapixels de ???, prontos para, a qualquer flagrante, posicionarmo-nos como verdadeiros documentaristas, captando cada segundo da vida alheia.

Se um Inimigo é difícil de ser atingido, imagine milhões de inimigos. Parte da força do Big Brother vinha justamente da traição entre os cidadãos, ninguém estava seguro, nem mesmo dentro de seus lares. As crianças eram as piores, a cada comportamento suspeito dos pais já havia uma denúncia. E o que as crianças poderiam considerar suspeito senão todo um universo de coisas desconhecidas e ainda incompreendidas. Qualquer coisa, enfim.
Não havia lei no Estado absoluto de Orwell. No entanto, tudo poderia ser considerado crime. E era. Não sei se estamos seguindo este caminho, se o futuro que nos espera é justamente o sombrio e cinzento mundo em que Winston Smith aprende a amar o Estado, seu Grande Irmão.

E por falar em Grande Irmão, não posso deixar de mencionar o programa homônimo. Que aquilo é uma idiotia e que seus participantes são atores fingindo intrigas e polêmicas é desnecessário lembrar, mas quantas pessoas assistem aquele programa? Quantas pessoas obcecadas para saber o que se passa na vida de desconhecidos, sendo que sua vida está acontecendo bem ali nesse mesmo momento. Embora o telespectador não perceba , sua vida não fica suspensa durante o programa, mas é desperdiçada, enquanto seu cérebro, este sim, permanece em Stand-by.

Agora, cada um desses “espiadores” tem uma câmera em seus bolsos, prestando atenção em cada detalhe de seus companheiros de labuta diária. Um espirra torto e já aparece no Youtube. Outra é flagrada sem calcinha, bêbada, fazendo sexo com seu novo namorado ou com um cara que acabou de conhecer.

Moral à parte, nada vale a perda da intimidade, que acaba levando à perda da liberdade. Não quero ter de me preocupar em aparecer no Youtube exercendo meu sagrado direito de cometer erros.

E, por fim, embora haja muito mais, qual o interesse nessa popularização das câmeras? Conspiracionista, acredito que é realmente interesse do Estado nos manipular para que, crendo estarmos no exercício maior de nossa liberdade, entreguemo-la em uma bandeja de prata. Claro que eu não tenho coragem de dizer isso em voz alta, nunca se sabe quem pode estar ouvindo.