quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Do Humor

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O linha do limite do humor no Brasil é muito apertada. E patética. A esperança dessa linha ser alargada está na ousadia dessa nova geração de humoristas. Mas não sei se vai rolar. Eu abro revistas e vejo amigos comediantes confortáveis dentro desse limite. Eles não estão fazendo piadas com o mundo das celebridades. Ao contrário. Vejo muito deles se divertindo nesse mundo, pedindo um alvará pra ser aceito e reconhecido como celebridade também. Sabe o aluno bagunceiro da sala que senta na última cadeira? Todos sabem que a qualquer momento pode ser alvo desse cara. Alguns acham graça e outros pensam "que droga que ele está na minha classe. Mas não tem jeito! Eu tenho que aguentar!". Esse é o lugar do comediante na classe artística. A última cadeira da classe. Mas o que vejo são colegas de humor disputando a primeira fileira!

Não rola comédia de opinião por aqui. Isso pode desagrar as pessoas! Então somos genéricos. Só falamos mal em público de político em geral ou do que já foi preso. Dificilmente de um estabelecido. Isso pode gerar críticas da oposição. Já vi comediante fazer piada no twitter e jornalista atrás de click vender aquilo como "ofensa grave". Mas isso não é tão ruim. O ruim foi ver o comediante por causa disso pedir desculpas em público por ter falado o que esperam que ele fale: P-I-A-D-A. Já li entrevista de um comediante muito talentoso dizendo: "na escola eu era amigo dos nerds e dos bagunceiros". Ele não quer se comprometer nem com o seu passado, afinal ele é um bom rapaz! Agrada todo mundo. O problema é que comediante não é o bom rapaz! Pense num comediante realmente grande, que foi reconhecido mundialmente pelo seu trabalho.

Pensou?

Então. Ele não era o bom rapaz. Ele era o moleque sem educação que falava o que ninguém queria ouvir. Ele não é o seu herói. Ele é o seu anti-heroi. Se o senso de justiça do homem comum é agradar a todos o do comediante é desagradar a todos igualmente. O comediante não é uma adorável companhia. Ele é um adorável Filho da puta! Isso é ser comediante de verdade!

Mas aqui no Brasil não se admira comediante de verdade. Porque a verdade não é admirável. Nossa cultura nos ensina a lucrar com a mentira. Rir com a verdade é algo que não entra na cabeça de ninguém por aqui. Aqui a verdade é feita para ser maquiada. A verdade não diverte ninguém. Assusta. Fiquemos então com os imitadores de Silvio Santos, os burros que falam palavras erradas, os trocadilhos, os contadores de anedotas, o atrapalhado que dá cambolhotas circenses, a gostosa semi-nua que faz biquinho e o cara em traje caricato que fala um bordão. Eles não incomodam ninguém.

E o comediante que ousar brincar com a verdade vai cair no esquecimento, de boicote em boicote. E pensando bem é possível que eu esteja indo, em poucos anos, exatamente para lá, para o esquecimento. Mas eu te juro que eu vou contando piada.

Eu realmente gostaria que no Brasil os alvos das piadas não se considerassem tão frágeis, o público não fosse tão limitado e os comediantes não fossem tão covardes e acomodados.


PS: Este texto enorme (ui) é parte de um texto maior ainda (ui!) e foi escrito pelo Danilo Gentili lá no blog dele. Acessem-no para ler inteiro, se houver interesse. Diz ele que precisava de um contexto. Eu acho que não. Acho que somos capazes de entender o que ele quis dizer sem precisar recorrer a um país onde o senso de humor (ou os humoristas), embora corajoso(s) como ele diz, não é grande coisa. Grande coisa é fazer piada com costumes em um país tradicionalista e sisudo. Mais ou menos como esses caras.
PPS: Enquanto criticava, esqueci completamente de Family Guy e da fase áurea dos Simpsons (que parece que está voltando, ainda que lentamente). Eles (os roteiristas) são bons. Atualmente, os melhores.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Velhas



PS: Alguém precisa passar uma vassoura por aqui...