segunda-feira, 16 de março de 2009

A entrevista

Fazia-me perguntas cretinas sucessivamente, aparentemente, o medo de parecer idiota não o afetava. As pupilas estreitavam-se, seus modos, seus suspiros de fastio e até sua forma exalavam a falta de medo que só uma relação desigual faz nascer. O poder; ria-me – diga-se de passagem, que só ria, graças a sádica habilidade de rir da própria desgraça – de ver as formas como ele se manifestava, não mais que cinqüenta centímetros nos separavam, seria fácil agredi-lo, poucos segundos seriam o bastante para que eu fizesse cessar o descompassado som daquele respirar dispnéico e obeso, no entanto não podia.

O poder não se manifesta mais assim e o meu, junto com meus conhecimentos e habilidades não estavam ali para se impor e sim para se vender.
Soltou mais uma de suas perguntas e essa de uma simplicidade lógica que até me surpreendeu, perguntou-me:
- Você é honesto ou costuma mascarar as coisas?
ora essa, se eu respondesse que mascaro as coisas estaria sendo honesto, se sou honesto não teria porque dizer que mascaro as coisas, logo, responderia a verdade que seria dizer que sou honesto; poderia ser também que eu fosse do tipo que mascara (nada impede não é?) e então mascarando as coisas eu responderia que sou honesto. Não havia outra resposta possível para essa pergunta que não fosse dizer-me honesto e, a verdadeira honestidade da resposta ele nunca saberia. . .

E assim ia deixando-me conduzir de pensamento em pensamento, da ilogicidade das questões até a percepção de que todos os talentos que adquiri com tão altos ideais estavam agora a serviço do mercado, vendidas a um preço que envergonharia o mais boçal dos negociantes.

Não sei se meus olhos me traíram enquanto eu vagava por tais pensamentos, não sei se os desviei ou os deixei parecerem opacos, mas a boca (o maior orgulho de minha hipocrisia) não me decepcionou nem por um instante e, enquanto minha mente errava na prolixidade da indignação, ela fazia soar em alto e bom som o oposto dos meus pensamentos.

Voltando a mim cheguei a rir – com os olhos (traidores) apesar da boca (fiel) manter-se mentindo – percebendo quão bem treinada foi minha língua pelos chicotes da necessidade.

Mateus.

2 comentários:

  1. Lixo demais essa merda,
    esse tal de Mateus tem que aprender o básico da escrita

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  2. Na verdade, Mateus é o nome de um software que a gente desenvolveu, baseado na criptografia corel-ram. Foi uma grande sacada.
    Ele gera textos aleatoriamente, baseados numa proposta-tema predeterminada.
    Ainda o estamos testando. Por isso, continue nos agraciando com seus bem fundados críticas e sugestões.
    Um abraço.

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