terça-feira, 24 de março de 2009

Inexoráveis questões sobre o tempo.

-Oi, tio.

Até então, minha cabeça viajava. Na travessia entre o estágio e meu covil, pensava sobre a vida; o meu dia seguinte, abarrotado de compromissos ; no que faria ainda hoje. Tanta coisa! E pensava, sobretudo nos meus fones de ouvido. Um par quebrado, e eu estive perto de comprar outro dois dias antes. Nem sei quando poderei comprá-los, quando terei a chance. Mas, a voz me tirou do emaranhado de pensamentos em que me envolvia como um safanão.

Olhei para os lados, esperando ver a fonte. Era um carro preto, Vectra, não sei o ano, meu irmão saberia precisar este detalhe e numerosos outros. Eu não. Sou um troglodita em termos de veículos, sei acelerar, frear e trocar as marchas, e mais algumas manobras simples, por muito esforço. Era um carro e era preto, bastava. Cheio de adolescentes. Cheio no sentido de MUITO cheio, havia pelo menos umas quatro sentadas atrás com mais duas no colo. Uma das quais, a garota que me interpelara.

Sou paranóico demais para reagir passivamente ou com bom humor a uma brincadeira dessas. Bem, por mais que eu tenha vinte anos, comecei a pensar se eu não estaria velho demais, se eu não estaria abusando das comidas oleosas, se a falta de exercícios estava me tornando um velho precoce. Tenho me perguntado se não desperdiço meu tempo e o vocativo da garota apenas me tornou mais angustiado.

O que é o tempo afinal? Uma questão de percepção, o modo como vemos e medimos os acontecimentos à nossa volta, como gosto de pensar? Um fenômeno que faz as coisas acontecerem? Algo como a Alavanca Inicial de Aristóteles? Seria o tempo o responsável pelos fatos e não apenas uma medida para estes? Ou então um rio que desce para o mar eternamente congelado, como propos Einstein?

“Morte não era mal” lembro-me da frase de Terry Pratchet sobre um dos meus personagens favoritos, o Morte. Ele não era mal, mas... e o Tempo? Este, com certeza, é. Ao invés da foice, ele segura um chicote e nos açoita, mais depressa nos aproximamos do abismo de nosso fim e todas suas inevitáveis perguntas.

Olhei para ela, a resposta assentando-se em minha língua. A obsessão esvaindo-se de todo meu ser.

-Eu tenho comido sua tia, pivete?


Thadeu

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