sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Julgamento Final -Audiência de Instrução e Julgamento

Abraxas se aproximou. Em sua mão, um calhamaço de folhas brancas.
-Bem, sua audiência será em duas horas.
-Já era tempo. Faz quase dois anos que eu estou esperando.
-Bom...dois anos aqui não são nada comparados ao que poderia estar passando no Inferno.
-Isso é verdade.
-Não perca a esperança.
As duas horas seguintes se passaram entre explicações de praxe sobre a ordem dos ritos, sobre o que deveria ser falado e as reações que o finado deveria esperar.

Por fim, um anjo com uma trombeta os chamou e eles entraram num grande salão. Diante de uma mesa de mármore, um anjo com três pares de asas os observava.
-Abraxas!
-Auriel! Que prazer em vê-lo.
-Temo não poder dizer o mesmo, meu Irmão.
-Ora, ainda ranzinza! Não sei como podemos chamar isso de Paraíso, com pessoas de humor tão ruim.
-Dispense-me de seu falatório, Advogado. Traga-me o pecador.
-Ele está aqui – e voltando-se para o falecido – não deixe que o mau humor dele o perturbe.
-EU NÃO ESTOU MAU HUMORADO, ADVOGADO. Hum...bem, prossigamos. Sr. Afonso?
-S-sim, meretíssimo.
-És culpado por inúmeros pecados. O que diz antes da Condenação?
-Protesto, Auriel.
-É claro que você protesta, Abraxas. Qual a causa, desta vez?
-Você já condenou o pecador!
-Claro que sim. Os pecados foram testemunhados por Nosso Senhor. Haverá alguma dúvida sobre a existência deles?
-Claro que não. Mas há as discriminadoras, as excludentes...a Bíblia está repleta delas.
O anjo passou as mãos sobre os olhos.
-E você vai invocá-las, Advogado?
-Claro que sim. Todas elas.
-Céus. Apresente sua impugnação, Advogado.
-Aqui, Auriel – e jogou o calhamaço sobre a mesa.

O anjo pegou-o. Basicamente, era uma cópia dos autos de acusação, mais centenas de citações bíblicas específicas para cada pecado e sobre o Perdão Divino e sua Importância. Mais menções a filósofos humanos que contradiziam a existência do livre arbítrio, menções ao Determinismo, questionamentos divinos. A preferida de Abraxas era uma analogia com o contrato social de Rousseau, em que afirmava que a Aliança era um contrato propriamente dito e que, Deus, ao permitir a fome, a violência, a corrupção, as mortes, a desigualdade, estava descumprindo Sua parte no Contrato, o que tornava inexigível que os humanos, no caso o Cliente Afonso, cumprissem a sua parte.
O sorriso cresceu no rosto do anjo caído. Auriel ergueu os olhos para o Céu e seu rosto de Iluminou.

-REGISTREM-SE NOS AUTOS A APRESENTAÇÃO DA IMPUGNAÇÃO. O CÉU APRESENTARÁ A TRÉPLICA. ADIE-SE O JULGAMENTO. INTIMEM-SE AS PARTES. Estás dispensado, pecador.
-E agora?- perguntou o homem.
-Agora, nós esperaremos- respondeu-lhe, sorrindo o Advogado.

5 comentários:

  1. To ficando acostumada!!!

    Mas pelo menos vc posta Thadeu, não esconde o "ouro" (na verdade o texto) como o Leo!

    =D

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  2. Não sei se faz muito o tipo de vcs, mas tenho um selo para vocês no meu blog.
    Bjinhos

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